Muita Coceira e Dermatite Atópica Canina


Antes de mais, introduzo um tema que já introduzi no nosso Facebook: o Atualiza Vet!
O Atualiza Vet é um Congresso Online de Actualização Veterinária em Pequenos Animais, brasileiro e gratuito para estudantes e médicos veterinários. Nunca tinha ouvido falar do mesmo, até me aparecer inocentemente no meu perfil de Facebook e me chamar a atenção nos seus propósitos: divulgar e discutir temas recentes, actuais, com profissionais da área, sem termos de percorrer quilómetros e gastos em hospedagem.
Este Congresso acontece de 8 a 12 de Maio (por isso, ainda vais a mais do que tempo de te inscreveres, aqui!), no entanto, realizou uma palestra inicial na noite de 4 de Maio: assisti ao invés de estudar afincadamente para uma avaliação no dia seguinte e... não me arrependi.
Seja eu suspeita ou não, o tema dessa mesma palestra foi exactamente o mesmo que trago cá hoje: a Dermatite Atópica, com os conhecimentos dessa palestra e de umas quantas pesquisas adicionais.


A dermatite atópica é uma "doença" comum, uma alergia com predisposição genética, hereditária, inflamatória da pele.1
Não há predisposição de sexo. A nível de idade, geralmente é descoberta em animais com 6 meses a 3 anos - porém, como alergia que é, pode aparecer em qualquer altura da vida do animal. Para ver a importância e recorrência da DA, afecta 1 em cada 6 cães.

Principais Sintomas Observados pelos Donos
E como é esta alergia reparada pelos donos? Animais com DA demonstram, geralmente, muito prurido (coceira); além disso, podem apresentar rosto e patas avermelhados e irritados, porções de pele desidratada, pavilhão auricular inflamado e, mais tarde, perdas de pêlo, hiperpigmentações, eritema.

É uma reacção de hipersensibilidade e, como tal, pode ser desencadeada por um ou vários destes pontos:
- alergénios ambientais, como ácaros e poeiras;
- ectoparasitas;
- alergénios alimentares.

Se pensarmos popularmente, num animal com DA temos a presença de uma pele debilitada, com muitos buraquinhos que permitem a passagem destes corpos alérgicos nada simpáticos.

Pode ser de difícil diagnóstico, uma vez que os seus sinais clínicos podem depender muito da extensão da lesão (localizada ou generalizada) e do estádio da mesma (aguda ou crónica), bem como presença de infecções microbianas e outros factores.
Para ajudar na definição da doença, foram organizados três guidelines que permitem responder quanto à presença ou não de dermatite atópica.1


Principais Localizações Visíveis de Dermatite Atópica
É muito importante reduzir a lista de diagnóstico diferenciais que se abraçam a uma dermatite atópica, quando temos por base, por exemplo, existência de prurido.
Assim, a obtenção de uma boa história clínica, bom exame físico, testes de diagnóstico e avaliação de respostas a tratamento deve ser um ponto fulcral para diagnóstico final.
Dentro de testes fulcrais a realizar neste ponto temos: avaliação do pêlo em microscopia (a presença de pontas pouco afiladas demonstra que o cão se coça muito, mesmo que não visto pelo dono), amostras do pavilhão auditivo e amostras da pele.1


Após respeitar o ponto anterior, são usados os critérios de Favrot: este é um conjunto de 8 critérios e a presença de 5 destes critérios no animal avaliado diagnostica o mesmo com DA.
Assim, temos:

1. O animal apresenta os sinais antes dos 3 anos de idade.
2. Cão vive a maior parte do tempo dentro de casa (contacto com ácaros, por exemplo).
3. A coceira/prurido responde a uma terapia de corticosteróides, diminuindo a intensidade.
4. O prurido é o primeiro sinal, sendo apenas após seguido de lesões associadas.
5. Extremidades dos membros torácicos afectadas.
6. Pavilhões auriculares afectados.
7. Margens auriculares bem delimitadas, não afectadas.
8. Área dorso-lombar afectada.2


Os critérios de Favrot, apesar de muito suportados, não são completamente conclusivos, pelo que o pedido de exames complementares auxilia na obtenção do diagnóstico mais correcto. Dentro destes, temos tricograma, raspagens cutâneas, citologias.


Também a aplicação de tratamentos específicos pode ajudar a concluir a DA como diagnóstico.
Ou seja, como visto no início da publicação, sabemos o que desencadeira estas respostas: alérgenos ambientais, ectoparasitas ou alérgenos alimentares. Assim, caso seja aplicado no animal produtos de controlo de ectoparasitas e dietas de eliminação e o ambiente seja controlado, mas os sintomas de prurido continuem, o diagnóstico é provavelmente DA.


A DA é uma doença incurável, mas existem várias terapias que permitem o controlo e manutenção da mesma. Estas terapias exigem controlo para o resto da vida do animal, sendo necessários reajustamentos à medida que o animal envelhece.
É positivo referir que, em mais de 90% dos cães, o controlo é bastante satisfatório!3

Dentro dos tratamentos, a gama de mercado é larga, abrangendo pomadas, sprays e outras formas de antihistamínicos, corticosteróides e glucocorticóides. Qualquer que seja o fármaco, este só pode ser indicado pelo seu médico veterinário, consoante os dados que o mesmo obtém da análise do animal e sua história clínica.

Não se esqueça: se encontrar estes sintomas no seu animal, não pense que é apenas mais uma alergia (ao que tão tipicamente esta doença é chamada) - informe-se sempre com um especialista de todas as anormalidades.


1. Hensel, P., Santoro, D., Favrot, C., Hill, P. and Griffin, C. (2015). Canine atopic dermatitis: detailed guidelines for diagnosis and allergen identification. BMC Veterinary Research, 11(1).
2. Favrot, C., Steffan, J, Seewald, W. & Picco, F. (2010). A prospective study on the clinical features of chronic canine atopic dermatitis and its diagnosis. Veterinary Dermatology, 21, 23-31.
3. Hill, P. B. (2009). General clinical approach to alopecia in dogs. In Proceedings of the European Veterinary Conference Voorjaarsdagen: Amsterdam, the Netherlands, 23-25 April 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário