Doença de Lyme: perigo para cão e dono?


Doença de Lyme, já ouviu falar? Se não, possivelmente já o alertaram imensas vezes para o perigo da mordida da carraça, não? Então um dos potenciais perigos da mordida deste pequeno animal é o aparecimento desta mesma doença de Lyme, contagiosa tanto para cães como para humanos.
A doença de Lyme é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida pela mordida de uma carraça infectada. É considerada uma zoonose, uma vez que pode infectar tanto cães como humanos; no entanto, não é directamente contagiosa de um animal para outro, a não ser pela mordida da carraça em si.
.
Ciclo de vida de Borrelia burgdorferi.
.
É de ter em conta que, mesmo com a mordida da carraça, o animal pode não ficar automaticamente infectado, uma vez que é capaz de desenvolver respostas imunológicas individuais para com a bactéria. 1


Nos cães, o primeiro sintoma é a 'moleza' repentina: o animal apresenta-se muito cansado, começa a claudicar dos membros e o toque nas articulações é doloroso devido ao aparecimento de inflamação. 2
Outros sintomas podem ser:

Δ Febre;
Δ Letargia (apatia ou sono profundo, com respiração quase suspensa);
Δ Perda de apetite (com ou sem perda de peso);
Δ Problemas respiratórios;
Δ Inflamação nos gânglios perto da picada;
Δ Caminhar com costas arqueadas.

No entanto, há que ter em conta que o aparecimento dos primeiros sintomas pode demorar desde dias até semanas a ocorrer, pelo que uma observação atenta do dono ao animal é sempre o melhor primeiro passo a tomar: se o dono verificar o aparecimento de uma mancha vermelha na zona da picada cujo tamanho aumenta ao longo do tempo, deve encaminhar o animal o mais rapidamente possível ao médico veterinário. 3
Estudos recentes revelam também que cães assintomáticos podem apresentar crescimento bacteriano histológico, esperando este por uma fraqueza do sistema imunitário para revelar a sua presença. 3

Em casos mais sérios e cujo tratamento demorou muito tempo a ser iniciado, o animal pode entrar em insuficiência renal e iniciar graves inflamações cerebrais e cardíacas.


O diagnóstico da doença de Lyme é feito com base nos sintomas apresentados pelo animal. Para o despiste da doença, o médico pode pedir análises sanguíneas ou urinárias, radiografias e/ou exames de extracção de líquido das articulações.
É muito importante, nesta situação, informar o seu médico veterinário quanto à altura em que surgiram os primeiros sintomas e onde se encontra o local da picada, por exemplo.



Borrelia burgdorferi é uma bactéria, pelo que o tratamento da doença é feito recorrendo à administração de antibióticos adequados (geralmente com toma de 2 a 4 semanas, para garantia de eliminação total da bactéria). Exemplos de fármacos que podem ser administrados com elevada e rápida eficiência são cefovecina, doxiciclina ou amoxicilina. 4



Sim, pelo que a prevenção nunca é demais.
A prevenção desta doença é feita por manutenção de uma boa desparasitação externa do animal: existem diversos produtos que são eficazes para o mesmo e que, não só defendem o seu animal, como toda a sua família contra as doenças transmitidas por carraças e outros parasitas. Se o seu animal não transportar estes parasitas consigo, não é mordido nem os transporta para outros serem mordidos.
A verdade é que, por se tratar de uma zoonose, o humano pode também ser mordido pelo carrapato infectado e desenvolver a doença de Lyme.

Nas pessoas, a doença - também conhecida como borreliose - afecta a pele, o sistema nervosos e o sistema músculo-esquelético e é caracterizada por três estágios: 5

i. Infecção Precoce, com eritemas migratórios (erupções cutâneas) consequentes do movimento bacteriano, claros ou escuros, dolorosos, bastante homogéneos e associados a sintomas de febre, fadiga, mal-estar, mialgias e dores de cabeça.
ii. Disseminação da Doença, com lesões na pele (grandes hematomas), dores nas articulações e inchaços, meningite, miocardite, paralisia de um dos lados do rosto, bloqueio atrioventricular e artrite.
iii. Infecção Persistente, associada a diferentes graus de encefalopatias, encefalomielites e artrites, distúrbios no sono e problemas de visão perpétuos.

Outro ponto preventivo a ter em conta: se tiver gatos em casa, verifique periodicamente se os mesmos também têm carraças ou não e, no caso afirmativo, remova-as rapidamente. Apesar do pequeno risco que têm para desenvolver a doença (raro, mas possível), podem transmitir estes pequenos parasitas aos seus cães e família. 6



O não tratamento da doença com a rapidez necessária pode acarretar sequelas graves no animal. As bactérias responsáveis pela doença alojam-se essencialmente em 4 locais, derivando daqui os principais problemas crónicos:

Δ Articulações: apesar do tratamento, a inflamação pode tornar-se crónica e manifestar-se de tempos a tempos. Assim, o animal continuará a ter dores articulares, inchaços e dificuldades em movimentar-se.
Δ Cérebro: como as bactérias preferem geralmente o cerebelo, o animal pode ficar com sequelas perpétuas na coordenação dos seus movimentos e equilíbrio. Em casos mais graves, as bactérias podem mesmo diminuir o tamanho do cerebelo.
Δ Rins: possibilidade de desenvolvimento de insuficiência renal crónica.
Δ Coração: possibilidade de desenvolvimento de problemas cardíacos crónicos.

Por todos estes sintomas passíveis de ocorrerem na doença de Lyme, a Borrelia burgdorferi ficou reconhecida como "A Grande Imitadora", podendo ser confundida com doenças como esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla, alzheimer, parkinson, autismo, entre outras, pelo que o despiste e o bom conhecimento do médico deve ser eficaz e actualizado.

Esta bactéria já foi notificada em todos os continentes com excepção da Antárctida (o primeiro caso português foi em 1989, em Évora, por David de Morais), pelo que é essencial o dono, enquanto amigo e responsável primário pela saúde do seu patudo, estar atento e informado sobre todas as suas armadilhas!


1. Leschnik, M., Kirtz, G., Khanakah, G., Duscher, G., Leidinger, E., Thalhammer, J., Joachim, A. and Stanek, G. (2010). Humoral Immune Response in Dogs Naturally Infected with Borrelia burgdorferi Sensu Lato and in Dogs after Immunization with a Borrelia Vaccine. Clinical and Vaccine Immunology, 17(5), pp.828-835.
2. Bouchard, C., Leonard, E., Koffi, J. K., Pelcat, Y., Peregrine, A., Chilton, N., … Ogden, N. H. (2015). The increasing risk of Lyme disease in Canada. The Canadian Veterinary Journal, 56(7), 693–699.
3. Bjurman, N. K., Bradet, G., & Lloyd, V. K. (2016). Lyme disease risk in dogs in New Brunswick. The Canadian Veterinary Journal, 57(9), 981–984.
4. Wagner, B., Johnson, J., Garcia-Tapia, D., Honsberger, N., King, V., Strietzel, C., Hardham, J., Heinz, T., Marconi, R. and Meeus, P. (2015). Comparison of effectiveness of cefovecin, doxycycline, and amoxicillin for the treatment of experimentally induced early Lyme borreliosis in dogs. BMC Veterinary Research, 11(1).
5. Skar, G. and Simonsen, K. (2017). Tick, Diseases, Lyme. StatPearls Publishing.
6. Vet.cornell.edu. (2017). Lyme Disease - Cats. [online] Available at: http://www.vet.cornell.edu/fhc/Health_Information/LymeDisease.cfm [Accessed 9 Sep. 2017].

Sem comentários:

Enviar um comentário