Cães e Fobia a Fogo-de-Artifício: o teu Patudo tem?



Não sei se é prática corrente, mas a aproximação da Páscoa, na minha freguesia, significa tormenta para o meu cãozarrão: a manhã começa com foguetes, o almoço continua com foguetes e, com 'sorte', a noite continua com mais do mesmo!

O medo de fogo-de-artifício é uma fobia típica dos cães. Mesmo o cão mais confiante pode tremer "a varas verdes" quando este fenómeno luminoso e altamente sonoro ocorre na sua frente. O comportamento é normal: afinal, os nossos patudos são extremamente sensíveis a estímulos sonoros, como é o exemplo do fogo-de-artifício, alarmes e trovoadas.
Um estudo recente estudou os principais sintomas associados a sons de elevada intensidade (103-104dB) e, efectivamente, em cães de companhia são detectados aumentos do batimento cardíaco, dos níveis de cortisol e de respostas comportamentais de stress, como tremores e salivação. 1
Outro dos fenómenos verificados relacionava-se com o rácio LF/HF: este é um rácio que reflecte a variabilidade do batimento cardíaco, onde LF corresponde essencialmente a actividade simpática (relacionada com respostas ao stress) e o HF a actividade parassimpática (promoção do relaxamento); nestes animais, como é previsível, temos picos de LF acentuados, resultando num valor de rácio alto. 1


▴Encontre um vídeo ou gravação com fogo-de-artifício.
▴Ao longo do dia, inicie o vídeo algumas vezes, no menor volume possível. Tente acompanhar estes ruídos com biscoitos que o seu cão goste ou mimos.
▴Aumente o volume gradualmente, ao longo dos próximos dias.
▴Caso o seu cão mostre sinais de receio, reduza novamente o volume para o nível em que o mesmo se sente confortável, e recomece todos os pontos anteriores.
▴Repita este exercício até o seu cão não demonstrar mais medo do ruído projectado no vídeo, a alto volume.

No entanto, é compreensível que nem sempre o tempo que dispomos seja o suficiente para realizar estes exercícios do modo mais eficiente. Desta forma, existe uma sequência de outros procedimentos que podem ser tidos em conta:

Não mude o seu comportamento: muitas vezes somos estimulados a acariciar ainda mais os nossos animais nestas situações, mas isso apenas ajuda a que o animal entenda o seu comportamento como normal e benéfico.
▴Também é necessário ter cuidado com a nossa reacção, evitando pulos e berros para tentar silenciar o ruído. A nossa linguagem corporal vai demonstrar ao nosso patudo uma situação muito mais urgente e catastrófica do que calmante.
▴Ligar o rádio ou a televisão e manter as janelas fechadas podem ser boas opções.
▴Não retire o seu animal da sua zona de conforto.


No caso de uma fobia grave, a mesma deve ser avaliada por um médico veterinário competente: nestas situações, o mais confortável para o animal e para o dono é a administração de sedativos e ansiolíticos. Os ansiolíticos comerciais mais usados incluem, geralmente, clomipramina ou alprazolam 2; no entanto, são referidas também algumas medicações ansiolíticas naturais recentemente, associadas a terapias alternativas que podem ser questionadas a um especialista da área.
.
É importante saber que, como qualquer medicação, os efeitos destes fármacos são a curto prazo, pelo que uma situação de fobia grave deve ser acompanhada por um programa de dessensibilização com treinador para erradicar o medo ou, pelo menos, diminuir o medo do seu patudo.


Apesar da existência de estudos, a comparação entre as respostas de um cão e de um gato não é ainda conclusiva: efectivamente, os donos notam uma maior demonstração de comportamentos por parte dos seus cães, mas isso não demonstra uma prova suficientemente forte, uma vez que os felinos são bem mais tímidos e individuais nas suas demonstrações de stress. 3



1. Souza, C. C., Maccariello, C. E., Dias, D. P., Almeida, N. A., & Medeiros, M. A. (2017). Autonomic, endocrine and behavioural responses to thunder in laboratory and companion dogs. Physiology & Behavior, 169, 208-215. doi:10.1016/j.physbeh.2016.12.006 .
2. Crowell-Davis, S.L., Seibert, L.M., Sung, W., Parthasarathy, V., Curtis, T.M. (2003) Use of clomipramine, alprazolam and behaviour modification for treatment of storm phobia in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, 222(6):744-748.
3. Dale, A., Walker, J., Farnworth, M., Morrissey, S., & Waran, N. (2010). A survey of owners' perceptions of fear of fireworks in a sample of dogs and cats in New Zealand. New Zealand Veterinary Journal, 58(6), 286-291. doi:10.1080/00480169.2010.69403.

Sem comentários:

Enviar um comentário